Clarice Lispector disse: “Até cortar os próprios defeitos pode ser perigoso. Nunca se sabe qual é o defeito que sustenta nosso edifício inteiro“.
Essa frase, envolta em sua típica introspecção e profundidade, nos leva a refletir sobre a complexidade da natureza humana. Em sua essência, Clarice nos alerta sobre a delicada teia que compõe nossa identidade e como os aspectos que consideramos negativos ou defeituosos podem, paradoxalmente, ser pilares essenciais de quem somos.
Ao longo da vida, somos constantemente encorajados a melhorar, a eliminar fraquezas e a polir nossas imperfeições. No entanto, essa busca incessante pela perfeição ignora uma verdade fundamental: somos seres intrinsecamente imperfeitos, e é justamente essa imperfeição que nos torna únicos. Nossos defeitos, muitas vezes, são as sombras que dão contorno à nossa luz, os contrastes que realçam nossas virtudes.
Cortar um defeito, segundo Clarice, é mais do que uma simples remoção de uma característica indesejada; é um ato de interferência na estrutura delicada e complexa de nossa personalidade. O defeito, aquilo que frequentemente tentamos esconder ou corrigir, pode estar interligado a outras partes de nosso ser de maneiras que não compreendemos plenamente. Pode ser que aquilo que consideramos um defeito seja, na verdade, uma fonte de força, resiliência ou mesmo criatividade.
Pensemos, por exemplo, na insegurança. À primeira vista, é uma característica que muitos desejam superar. No entanto, a insegurança pode nos tornar mais humildes, mais empáticos e mais cuidadosos em nossas interações com os outros. Pode nos incentivar a buscar constantemente o autoconhecimento e a melhorar, a encontrar maneiras de crescer. Ao tentar eliminar completamente a insegurança, poderíamos também estar eliminando essas qualidades valiosas.
Clarice nos convida a abraçar nossas imperfeições com uma aceitação profunda, a ver além do desejo superficial de perfeição e a compreender que nossas falhas são parte integrante de nossa jornada. Ela sugere uma abordagem mais compassiva e equilibrada, onde a autocrítica é substituída pela autocompreensão, e onde buscamos a harmonia interior em vez de uma perfeição inalcançável.
Em um mundo que constantemente nos pressiona a sermos melhores, mais fortes e mais perfeitos, Clarice nos oferece um lembrete gentil: a beleza da vida reside na sua imperfeição. Ao aceitar e integrar nossos defeitos, em vez de simplesmente tentar erradicá-los, podemos encontrar uma forma mais autêntica e plena de viver. É nesse equilíbrio delicado que reside a verdadeira sabedoria, onde aprendemos a nos amar e a nos aceitar por inteiro, reconhecendo que cada defeito tem seu lugar e propósito em nosso edifício interior.
Maria de Fátima Gouvêa
Junho de 2024
Inspirado no alerta de Clarice Lispector — de que um defeito pode ser o que sustenta nosso edifício inteiro — que tal uma pausa não para se “consertar”, mas para se compreender? Na Pousada Dharma Luz e Paz, o silêncio e a ausência de pressões criam o espaço seguro para você acolher suas imperfeições, observando com gentileza a arquitetura complexa de quem você é. Reserve e venha fazer as pazes com seu edifício interno.