Poema para as Crianças
(Poema de 12 de Outubro)
Nos quintais do mundo,
as crianças voam
sem saber que têm asas.
Brincam de ser passarinho,
deitar no chão e encontrar constelações de formiga.
Nossa Senhora borda auroras
no silêncio da noite,
penteia os sonhos dos meninos de pés descalços.
Ela tem cheiro de rio calmo
e carrega nos braços um barquinho de papel,
que navega pelos olhos
de quem ainda acredita.
Toda criança é uma prece
com joelhos ralados
e risadas infinitas.
Abençoa, Senhora,
essas almas miúdas
que fazem de qualquer
pedrinha um tesouro.
Pois quem conserva o espanto de ser novo todo dia
tem o coração cheio de céu —
e onde há céu, há Aparecida.
Os rios falam palavras
que só as crianças entendem,
como se a água soubesse
contar segredos antigos.
E Nossa Senhora caminha
pelas margens,
plantando estrelas nas poças esquecidas.
Um caracol vira bússola nas mãos de quem sonha,
e o vento sopra histórias que dormem dentro das pedras.
Ela veste o mundo de simplicidade,
um manto azul bordado de esperança leve.
Toda criança carrega no bolso um pedaço de futuro,
mas também um ontem,
feito de nuvem e balanço.
Nossa Senhora, ensina a preservar esse riso solto,
feito de barro, vento e vontade de correr para o mar.
Que nenhum adulto roube
o encanto de descobrir o mundo,
nem a coragem de brincar com as impossibilidades.
Porque no olhar de uma criança existe tudo o que falta:
um céu inteiro, de sol a sol,
feito promessas a santa.
Maria de Fátima Gouvêa
12 de outubro de 2024